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Reabilitaçao e Esporte

  • Foto do escritor: Caio Poletti
    Caio Poletti
  • 3 de mai. de 2020
  • 6 min de leitura

Pode-se dizer que com a contextualização atual o esporte converteu-se em um procedimento pelo qual os indivíduos buscam seus próprios objetivos, como promoção de saúde, melhora da aparência física, liberdade, busca do crescimento pessoal, emprego de um caráter profilático, ocupação do tempo, diversão, criação ou ampliação de um círculo de relações.

Dessa forma, esses objetivos do esporte são capazes de dividi-lo em diversas correntes. Segundo Tubino (1984), ele é composto por três dimensões: a performance; a participação; e a educação,

No esporte performance temos o objetivo da “produção” de altos rendimentos, conquistas, resultados. O esporte participação é aquele acessível a todos, com participação livre e espontânea, que proporciona o surgimento de uma prática esportiva democrática, já que não privilegia os talentos, permitindo o acesso de todos. E, por ultimo, aponta o esporte formação, ligado à educação em que não se visa encontrar campeões, mas a ajuda de forma decisiva na formação de cidadãos realmente úteis à sociedade.

Assim sendo, de acordo com essas definições, podemos encontrar diversas funções para o esporte, como o desenvolvimento do potencial humano e a superação de seus limites, o deleite, o entretenimento, a socialização e o desenvolvimento de tantos outros aspectos da vida coletiva. Além disso, observa-se uma possibilidade de utilizar a prática esportiva a fim de promover a integração social de pessoas portadoras de necessidades especiais.

Desse modo, apontamos para a prática de atividade física em diferentes contextos com objetivos claros de promover a saúde, atuando como fator de integração social, visando eliminar ou evitar estresse, em busca de melhor qualidade de vida.

Essas atividades podem ocorrer em parques, praças ou centros esportivos, mas é principalmente nas academias de ginástica que se concentram as pessoas que realizam atividades físicas a fim de sentirem-se saudáveis ao usufruírem de boa forma física, ou até por indicação médica quando apresentam alguma disfunção orgânica ou tendência a desenvolver determinadas patologias.

Além disso, segundo Almeida et al (1997), o esporte leva à melhoria da capacidade funcional que por sua vez está relacionada à autonomia do individuo e aos sentimentos de bem-estar físico e autoconfiança.

Fica evidente, porém, que com a maior preocupação pela prática esportiva, eleva-se o número de pessoas que necessitam de um processo de reabilitação e/ou recuperação. Essa reabilitação esportiva pode ser proposta de duas maneiras: enquanto recuperação de atletas lesionados; e como instrumento em programas de reabilitação, para portadores de deficiências físicas ou mentais e na recuperação de cirurgias ou algumas patologias.

Além disso, pode-se observar que atletas profissionais são comumente atribuídos de características como superação de obstáculos, alcance de marcas e limites elevados, assim como força, velocidade e tantas outras habilidades físicas. Também observa-se presença de persistência e obstinação em alcançar objetivos e até mesmo superação e resistência constante de dores, contusões e lesões.

Porém, essa lesão para um atleta tem um significado peculiar em relação à população de um modo geral, já que sua principal atividade de trabalho fica temporariamente interrompida e às vezes ameaçada definitivamente. As lesões que exigem intervenção cirúrgica ou uma recuperação lenta podem expor o atleta a conflitos e angústias que fazem o período de recuperação se tornar cansativo física e emocionalmente.

Esses atletas incorporam ao longo de suas carreiras esportivas uma alta exigência pela obtenção de elevados resultados, e com a ocorrência de uma lesão ele é confrontado com a possibilidade de perder seu atual estado de rendimento e comprometer performances futuras. Além disso, uma característica típica desses atletas diz respeito ao arriscar-se, que é, ao mesmo tempo, condição para o sucesso e predisposição para a lesão.

Pode-se dizer que diferentes fatores são indicados como predisponentes a lesões esportivas, identificados como intrínsecos ou extrínsecos ao atleta, tais como aspectos anatômicos, biomecânicos e fisiológicos ou mudanças de ambiente, condições de treinamento (quantidade e qualidade), overtraining e fadiga (Samulski, 2002).

Além disso, para atletas, patrocinadores e dirigentes esportivos, as lesões correspondem a perdas esportivas e econômicas que comprometem as decisões futuras de todos os envolvidos (Buceta, 1996).

Assim sendo, no contexto da recuperação de uma lesão no esporte, percebemos que o atleta pode ter problemas não só físicos, mas também no que diz respeito à sua auto-estima e visão de si mesmo.

Autores citam algumas reações emocionais como freqüentes e típicas após lesões, como a perda de identidade, a dificuldade em retomar o ritmo de treinamento, o medo e a ansiedade, a baixa confiança e a queda na performance.

Além disso, são destacadas como reações comuns aos atletas lesionados: desespero, medo, negação e desilusão; frustração, desapontamento e desespero, isolamento, enfado e depressão; raiva e revolta; culpa e resignação; e tentativas de aceitação (Rotella & Heyman, 1991; Smith 1997; Buceta 1996).

Conforme Crossman (1997), um dos fatores fundamentais para auxiliar nessa reorganização do atleta é o apoio social, compreendido como a participação do grupo de atletas e da comissão técnica, bem como a familia e os amigos.

Além do apoio social destaca-se a necessidade de conscientização do atleta sobre o processo que levou à lesão e também sobre todo o caminho a ser percorrido segundo seu programa de reabilitação.

Porém, nessses processos de reabilitação, temos sugerido aos atletas e profissionais que valorizem o tempo já transcorrido da recuperação em vez de realizar a contagem regressiva sobre quanto tempo falta para cumprir o protocolo mínimo de reabilitação.

Esse processo pode ser visto sob o ponto de vista da Psicologia não como apenas reabilitar um conjunto de músculos ou estruturas físicas machucados, mas sim de recuperar, reabilitar um individuo ferido em todos os seus aspectos. Muitas vezes não se trata de auxiliar na reabilitação da lesão propriamente dita, mas do auxilio de outra condição anterior, muitas vezes mais conflitiva e pessoal.

O medo de novas lesões, a queda de autoconfiança e auto-estima abalada são reações psicológicas muito freqüentes durante o processo de reabilitação de lesões esportivas. A mente e o corpo se sobrecarregam com pensamentos e imagens de uma lesão posterior, o que dificulta e muito a atuação do esportista.

Ucha (1997) aponta que na ocorrência de lesões o psicólogo é chamado a fim de eliminar as reações emocionais negativas e assim viabilizar o processo de reabilitação. Ele também chama a atenção para uma possível mudança na realização de movimentos por parte do atleta e que podem estar fundamentadas no medo de ele se lesionar novamente.

Pode-se dizer que é necessário, portanto, o tratamento do atleta lesionado como pessoa e não só como lesionado, enfatizando a compreensão global do sujeito. É importante também oferecer ao atleta oportunidades de analisar o significado do esporte para ele e que parte deste tem em sua vida.

Garantir ao atleta a sensação de controle do processo de recuperação é fundamental para evitar que respostas depressivas sejam instaladas, como perceber que a lesão ou a dor o limita e que elas “comandam” suas possibilidades de ação.

A ansiedade e a tensão podem alterar a atenção e tensão muscular predispondo o organismo a lesões, pois esses estados podem causar distração e pensamentos irrelevantes em situações que exigem que a atenção do atleta esteja voltada unicamente para a atividade que realiza.

Kübler-Ross (1969), propõe que o período de recuperação é composto geralmente por 5 fases não obrigatórias, que são: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação (e reorganização).

Alguns autores classificam algumas lesões como “benéficas”. Além disso, “os conflitos particulares podem estar envolvidos em situações/condições de stress e que a ocorrência de lesão pode servir como mecanismo para solucionar tal situação/conflito”, ou seja, é possível compreender a lesão enquanto alivio (Rotella & Heyman, 1991).

Diversos modelos conceituais sugerem que o estresse e as adversidades podem servir como estímulo para o crescimento e desenvolvimento pessoal, o que incluiria a ocorrência de lesão esportiva como um evento que produziria conseqüências positivas ou benefícios. São eles: crescimento pessoal, crescimento de performance sustentada psicologicamente e desenvolvimento físico-técnico (após a lesão, os atletas aprenderam mais sobre seus corpos de como estes respondem às demandas do treinamento) (Udry, 1999).

Outro aspecto que pode ser entendido como beneficio da ocorrência de lesão é que segundo algumas pesquisas, atribuir ou encontrar um significado para as adversidades da vida pode ser importante para manter a saúde mental e física. Destacamos que a base da aprendizagem está no autoconhecimento, sobretudo em relação ao conhecimento de seus limites e possibilidades.

Crossman (1997), afirma que, muito tempo depois de recuperados, atletas admitem que o período em que estiveram lesionados foi um tempo para descobertas pessoais, um tempo de crescimento.

Segundo alguns autores, algumas competências são necessárias e estimuladas no tratamento de uma lesão: lidar com emoções, aumentar a motivação e a confiança através da formulação de objetivos, desafiar discursos internos de caráter negativo e crenças irracionais, controle psicológico da dor e controle do stress.

Porém percebemos que a negação é tal que o comportamento expresso apenas mascara ou tenta evitar o contato direto com a dura realidade: a lesão ocorreu e o atleta sofrerá perdas reais, seja em oportunidades na carreira esportiva, seja a perda do condicionamento físico – essencial para o rendimento elevado.

Desta forma, preocupações relativas à prevenção de lesões esportivas devem estar relacionadas entre os objetivos de uma adequada preparação psicológica.

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