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Personalidade e Esporte

  • Foto do escritor: Caio Poletti
    Caio Poletti
  • 3 de mai. de 2020
  • 19 min de leitura

INTRODUÇÃO

Uma das grandes áreas estudadas pela Psicologia é a Psicologia da personalidade. Segundo ela, pode-se observar que as pessoas são parecidas de muitas maneiras, mas não compreendem isso. Embora os psicólogos da personalidade estejam interessados nos atributos que caracterizam todas as pessoas, eles também se preocupam em estudar e procurar diferenças individuais.

Segundo Weinberg & Gold, personalidade é o conjunto de características que fazem de cada individuo ser único.

Por personalidade, os psicólogos entendem padrões relativamente constantes e duradouros de perceber, pensar, sentir e comportar-se especificos de cada indivíduo. Para eles, personalidade é um “constructo sumário” que inclui pensamentos, motivos, emoções, interesses, atitudes, capacidades e fenômenos semelhantes (Davidoff 1983).

Os psicólogos que estudam a personalidade podem fazê-lo de diversas maneiras, como profissionais pesquisadores, aplicadores de testes, teóricos da personalidade (formação de um conjunto de leis gerais) e clínicos que se utilizam do trabalho dos teóricos para ajudar as pessoas a se compreenderem e resolverem problemas psicológicos.

OBJETIVOS

O objetivo desse trabalho é, através de uma revisão bibliográfica (incluindo livros e artigos), estudar um campo da psicologia pouco aprofundado, mas que vem ganhando força em relação aos estudos atualmente, que é a personalidade.

Nesse trabalho, analisaremos as formas de mensuração dessa personalidade, bem como algumas das principais teorias de estudo à respeito do assunto.

Além disso, relacionaremos o assunto com a nossa área de atuação profissional, a Educação Física, através da comparação entre personalidade (homens atletas x mulheres atletas; pessoas atletas x não-atletas; atletas profissionais x amadores), e por último, avaliaremos o transtorno de personalidade na terceira idade

MENSURAÇÃO

Tendo como objetivo a avaliação da personalidade, é comum que psicólogos usem diversos instrumentos, e muitas vezes uma combinação deles. Nestes instrumentos incluem-se entrevistas, experimentações e observações controladas e testes.

Entrevistas

Atualmente é vista como a técnica mais popular de avaliação da personalidade, e que pode ser caracterizada como observação participante. Através dela, é possível conseguir alguns “insights” sobre a pessoa entrevistada. Os pontos negativos são que as entrevistas proporcionam dados de auto-relato que podem não ser exatos, pois o entrevistador tem a probabilidade de influenciar o comportamento que esta sendo observado.

Experimentações e observações controladas

Para obterem um entendimento direto de um problema da personalidade, os psicólogos de aconselhamento algumas vezes observam o comportamento dos pacientes em ambientes naturais que tendem a ser aflitivos. Essas observações controladas permitem aos pesquisadores obter informações precisas sobre a personalidade com uma precisão alta e baixa distorção dos dados.

Testes de personalidade

Os psicólogos usam também vários testes de lápis e papel para avaliar a personalidade (principalmente para aconselhamento, colocação em emprego e pesquisa). Estes testes podem ser de dois tipos:

Testes objetivos: Os instrumentos classificados como objetivos podem ter escores essencialmente da mesma maneira em todos os lugares, não importando quem ministre o teste e analise os resultados, ou seja, sofrem influência mínima das distorções do examinador. Um exemplo é o teste de Estudo de Valores. Ele baseia-se na noção de que as pessoas possuem seis tipos de valores: religiosos, políticos, sociais, estéticos, econômicos e teóricos. As pessoas possuem escore alto em um ou dois valores geralmente.

Mulheres apresentam escores mais altos em valores religiosos, sociais e estéticos. Homens têm escores mais elevados em valores teóricos, econômicos e políticos.

Porém, os testes de personalidade objetivos têm algumas das mesmas limitações que assolam as mensurações dos outros auto-relatos. As pessoas submetidas ao teste podem decidir não cooperar com o examinador e, consequentemente, retêm a informação desejada ou falsificam suas respostas.

Testes projetivos: Ajudam a revelar o mundo inconsciente de sentimentos e impulsos (percepções, emoções e pensamentos) das pessoas. Os instrumentos projetivos pedem às pessoas reagirem a estímulos não estruturados ambíguos (obscuros). Exemplos são o teste de Hermann Roschach, no qual ao serem submetidos ao teste, os sujeitos são solicitados a dizer precisamente o que vêem à medida que examinam dez borrões de tinta; e os testes projetivos de complementação de frases e desejos.

O ponto negativo destes testes é que as respostas individuais são difíceis de interpretar, e facilmente falsificados por sujeitos sofisticados. Além disso, o tema de uma estória pode ser influenciado por um recente programa de TV, o conflito de um amigo, experiências passadas ou preocupações pessoais correntes.

TEORIAS DA PERSONALIDADE

Teorias psicodinâmicas da personalidade

Elas procuram explicar a natureza e o desenvolvimento da personalidade, enfatizando a importância dos motivos, emoções e outras forças internas. Tais teorias supõem que a personalidade se desenvolva quando os conflitos psicológicos são resolvidos, quase sempre no inicio da infância (Davidoff 1983).

A teoria psicanalítica de Sigmund Freud

Freud, quando tratava de seus pacientes neuróticos, buscava “insights” que lhe permitissem entender a personalidade humana. Além disso, ele também se observava cuidadosamente. Dessa forma, gradualmente, juntou dados para compor uma teoria que chamou de psicanálise, que explicava a normalidade e as anormalidades psicológicas.

O conceito do inconsciente de Freud. Freud passou a acreditar que as pessoas estão conscientes de apenas um pequeno número de pensamento, memórias, sentimentos e desejos. Alguns outros são pré-conscientes, enterrados logo abaixo da percepção, de onde são fáceis de recuperar. A vasta maioria é inconsciente. Ele acreditava que o material inconsciente entra na consciência sob a forma disfarçada; aparece em sonhos, lapsos de linguagem, enganos e acidentes.

As teorias de Freud enfocam os aspectos inconscientes da personalidade. Para ele, os impulsos, componentes da personalidade, lembranças das experiências do inicio da infância e dolorosos conflitos psicológicos tendem a ser inconscientes. Além disso, verifica-se que os impulsos sexuais desempenham um papel importante nas formulações de Freud (sexual = todas as ações e pensamentos prazerosos).

De acordo com Freud, a personalidade consiste em três componentes importantes: id, ego e superego. Os componentes concorrem continuamente pela energia psíquica disponível. O id encontra-se no núcleo primitivo da personalidade e é o domínio dos impulsos. Freud caracteriza o id como “um caos, um caldeirão de excitamento fervente”. Não tem organização lógica e, por isso, os impulsos contraditórios podem existir lado a lado. Para satisfazer um impulso, o id usa pensamento de processo primário. Este forma uma imagem de um objeto desejado, um que anteriormente tenha sido associado à satisfação de impulso. Exemplos desse processo são os sonhos e as alucinações.

De acordo com Freud, o ego emerge nas crianças em desenvolvimento a fim de tratar de suas transações diárias com o ambiente, à medida que aprendem que há uma realidade à parte de suas próprias necessidades e desejos. O ego era uma parte do id que foi modificada por sua proximidade com o mundo externo. Uma das principais tarefas do ego é localizar objetos reais para satisfazer as necessidades do id. Diferentemente do id, o ego é controlado, realístico e lógico. Para Freud, o ego atua no principio da realidade, adiando a gratificação dos desejos do id até que seja encontrada uma situação ou objeto apropriado. Em contraste com o id, o ego usa o pensamento de processo secundário: cria estratégias realísticas para satisfazer os impulsos do id.

Freud acredita que o superego é o componente da personalidade recompensa o ego por comportamento aceitável e cria sentimentos de culpa para castigar o ego quando as ações ou pensamentos se colocam contra princípios morais. Todas as vezes que o ego cede ao id, o superego pune o ego gerando um senso de culpa e inferioridade (internalizando suas restrições, valores e costumes).

Além disso, Freud acreditava que a personalidade é moldada pelas experiências inicias quando as crianças passam por uma seqüência de fases psicossexuais. São elas fase oral, anal, fálica, latência e genital, e estão todas associadas à região corporal da qual emerge a líbido (energia sexual à prazer).

Freud é criticado por diversas razões, como pelo fato dele ter deixado de dar o devido peso às influências sociais e culturais sobre a personalidade. Porém, apesar de alguns enganos, suas teorias estão longe de mortas, sendo até utilizadas atualmente na analise do comportamento de figuras, tais como Hitler.

Teorias Neofreudianas

Carl Jung: associou-se à idéia de que os seres humanos herdam um inconsciente coletivo, que detém memórias de ancestrais, seus relacionamentos e suas experiências. Estas memórias, de acordo com Jung, produzem imagens, tais como o velho sábio e a mãe terra que habitam sonhos, delusões e fantasias.

Erik Erikson: as personalidades se formam à medida que as pessoas progridem por estágios psicossociais através da vida. A cada novo estágio há um conflito a enfrentar e a resolver. Há uma solução positiva e uma negativa para cada dilema. As positivas resultam em saúde mental, ao passo que as negativas conduzem a desajustamento. A solução de qualquer conflito depende, em parte, do sucesso com que os dilemas anteriores foram tratados.

Teorias fenomenológicas da personalidade

Os seres humanos atribuem significados à informação que é aprendida através dos sentidos. Uma vez que as pessoas sabem ou conhecem somente o que percebem, as percepções de cada indivíduo constituem sua realidade. Inevitavelmente, portanto, todos os seres humanos se defrontam com realidades ligeiramente diferentes (Davidoff 1983).

Os teoristas fenomenológicos concentram-se em procurar compreender os “eus” e suas perspectivas únicas de vida, definido como um modelo interno formado através de interações com o mundo.

A teoria do Eu de Carl Rogers

De acordo com Rogers, as crianças observam o seu próprio funcionamento, assim como vigiam o comportamento dos outros. Os autoconceitos evoluem lentamente à medida que as crianças interagem com outras e com seus ambientes.

Rogers vê a infância como uma ocasião especialmente crucial para o desenvolvimento da personalidade. Como muitos neofreudianos, ele enfoca os efeitos duradouros dos primitivos relacionamentos sociais. Todos precisam de consideração positiva, calor e aceitação dos outros significantes. As crianças, na opinião do autor, farão quase qualquer coisa para satisfazer esta necessidade, até mesmo distorcer ou negar suas próprias percepções, emoções, sensações e pensamentos com o intuito de obter aprovação parental

Porém, esta estratégia conduz a problemas, pois as pessoas que negam ou distorcem seus próprios aspectos importantes têm auto-imagens incompletas, irrealísticas. Os seres humanos bem ajustados ou “funcionando plenamente”, em contraste, detêm autoconceitos realísticos e estão abertos a todas as experiências. Eles confiam em suas próprias experiências para decisões. Sentem-se livres porque acreditam que suas escolhas são autogeradas.

Teorias disposicionais da personalidade

A fim de caracterizarmos as pessoas na vida cotidiana, usualmente lhes atribuímos um tipo ou enumeramos seus traços. Um traço (característica isolada) é uma dimensão que pode ser conceituada como ligação de duas características opostas, onde as pessoas ocupam posições especificas (intermediárias) entre os dois extremos.

Tipificar as pessoas (coloca-las em categorias de personalidade inteira) é uma outra maneira comum de descrever as disposições da personalidade. Tipificar supõe que os traços específicos geralmente se aglomerem.

Além disso, supõe-se que cada característica seja relativamente duradoura no decorrer da amplitude de vida e através de diferentes situações.

Teoria dos traços de Raymond Cattell

Ele e seus associados coletaram aproximadamente 18000 palavras que são usadas descrever pessoas. Omitindo expressões raras e superpostas, reduziram para 200 itens. Para tornar a lista ainda mais compacta, a equipe de pesquisa de Cattell correlacionou esses termos em conjunto. Foram identificados 16 grupamentos os quais foram rotulados com letras e, mais tarde com nomes dos traços. A informação dos testes objetivos e as classificações do comportamento da vida real confirmaram que esses traços eram dimensões básicas da personalidade. Estes são conhecidos como traços-fonte, e parecem ser influenciados por dotação genética e são relativamente estáveis na vida.

Figura 1: traços-fontes de Raymond Cattell.

Os perfis de personalidade foram marcados para três grupos


A teoria dos tipos de Willian Sheldon

Ele defendia o ponto de vista de que as pessoas com um determinado tipo de corpo tendem a desenvolver tipos específicos de personalidade. Sheldon calculava que os seres humanos são geneticamente dotados de características físicas que determinam as atividades nas quais tendem a destacar-se e, consequentemente, as que julgam agradáveis.

Teorias behavioristas da personalidade

Assim como os teóricos disposicionais, os behavioristas partilham de uma forte dedicação ao uso de métodos científicos rigorosos e por causa de sua insistência em mensuração exata, os psicólogos behavioristas usualmente enfocam atos observáveis, respostas fisiológicas e outros fenômenos que podem ser avaliados objetivamente.

O behaviorismo radical de B. F. Skinner

Na opinião de Skinner a personalidade é essencialmente uma ficção. Ele acredita que o comportamento pode ser explicado por forças genéticas e ambientais. Além disso, Skinner realça a experiência, especialmente princípios simples de condicionamento como reforço, extinção, contra-condicionamento e discriminação. Em sua opinião, a conduta de um indivíduo em qualquer ambiente é controlada por muitas circunstâncias essencialmente independentes. Consequentemente, as pessoas não devem esperar ver uma grande quantidade de coerência comportamental de uma situação para outra, ou seja, o comportamento é específico para cada situação.

O enfoque da aprendizagem cognitiva social de Walter Mischel

Assim como Skinner, Mischel acredita que o comportamento é específico a uma determinada situação. Mas, enquanto Skinner vê os seres humanos como organismos comparativamente simples à mercê das forças ambientais, Mischel os vê como solucionadores de problemas conscientes, organizados de um modo único, complexos e ativos.

A teoria de Theodore Millon

Theodore Millon desenvolveu uma teoria de aprendizagem biopsicossocial e de patologia de personalidade, por meio do estabelecimento de categorias da personalidade através de deduções formais (Aiken, 1997). Para tanto, incorporou idéias de diferentes modelos teóricos da personalidade e da psicologia em sistema integrado pelos planos biológico, psicológico, social e cultural.

O modelo, resultado de uma combinação de materiais de diferentes escolas psicológicas, expressa tanto os princípios da aprendizagem característicos dos modelos comportamentais, como os conceitos psicanalíticos, sob uma base de substrato neurobiológico do comportamento. Além disso, incluiu alguns aspectos pontuais da teoria evolucionista.

Segundo o autor, a personalidade corresponde a um padrão de funcionamento, uma forma intrínseca de agir. Além disso, Millon (1979) afirma que no desenvolvimento, a criança traz uma carga genética que molda seu desenvolvimento físico e psicológico. Devido a essa herança, o indivíduo está geneticamente predisposto a se comportar, sentir e ter inteligência similar a seus genitores.

Os estilos de personalidade, para ele, são resultados das experiências de aprendizagem que se desenvolvem em contextos familiares e escolares, assim como uma série de eventos vitais presentes desde o nascimento. Quando essas condutas se mostram insuficientes para dar conta da adaptação do indivíduo, podem levar à expressão de ações desadaptadas, patogênicas, conforme três modos:

– o sujeito exposto à situação ansiogênica que não dispõe ainda de capacidades ajustadas, adaptadas (maduras) para enfrentá-la, porque são frágeis seus sentimentos de segurança e controle;

– condições emocionalmente neutras que promovam a aprendizagem de formas de condutas não adaptativas;

– experiências insuficientes, na falta de estimulação adequada, que irá produzir déficit de aprendizagem de condutas mais adaptativas em termos de competências básicas.

A diferença entre os conceitos de normalidade e patologia reside na maneira diferente e mais ou menos estável da capacidade demonstrada pelo sujeito para enfrentar eficazmente as situações no seu meio (Kirchner, Torres e Forns, 1998).

A Tabela 1 apresenta, de forma sucinta, os três agrupamentos e a respectiva organização dos fatores no modelo de estilos de personalidade de Millon.

TABELA 1

Fatores dos estilos de personalidade e suas respectivas áreas de expressão

em contraste, detnte"ados ou "ealseus prorcem ou negam suas proprias elacionamentos sociais.

O conceito de estilos de personalidade para Millon (1996) está amparado numa organização holística de necessidades, motivos, mecanismos, traços, defesas que pode ser compreendido como sendo partes que a integram.

Sua proposta representa a idéia de personalidade como sendo uma entidade com coerência, não somente mera construção teórica, podendo ser entendida como uma forma, estilo de funcionamento adaptativo que um organismo exibe em seus vínculos nos diversos contextos de expressão. Contempla ainda a importância de diversos fatores representados em uma matriz única, específica para cada sujeito.

PERSONALIDADE E ESPORTE

É possível dizer que a atividade física tem seu envolvimento com a personalidade. Dentro de uma relação entre esporte e personalidade, pode-se dizer que esse pode influenciar de forma positiva no desenvolvimento, no comportamento do individuo, na estabilidade emocional, na motivação para melhoria de rendimento entre outros fatores.

A personalidade aparece agindo em características como liderança, autodomínio, motivação e comunicação social. Mas esta questão quando estudada cientificamente, apresentou quadros distintos na relação entre esporte e personalidade.

Relações entre esporte e personalidade

A relação entre esporte e personalidade pode ser dividida em três teses:

- Hipótese da seleção, na qual o individuo com determinada personalidade tende a praticar um esporte identificável às características dessa personalidade.

- Hipótese da socialização, na qual o esporte age influenciando, alterando a personalidade da pessoa.

- Hipótese da interação, na qual ocorre uma ligação entre os processos de seleção e de socialização, isso quer dizer que o esporte influencia a personalidade ao mesmo tempo em que a personalidade do indivíduo indica uma preferência deste de praticar determinado esporte.

Personalidade em crianças (esportistas)

No estudo do desenvolvimento da personalidade da criança pode-se separar em três níveis: o primeiro nível (funções biológicas), o nível central (processos cognitivos, motivacionais e emocionais), e o último nível (influências sociais, como família, escola, tempo livre).

Nesse contexto, algumas pessoas que participam com grande influência no desenvolvimento dessas crianças são os pais, professores, treinadores, colegas de escola e outros amigos.


A prática de esportes de rendimento para crianças tem seus prós e contras. As vantagens da prática dos esportes são na melhoria de características como determinação, concentração, ambição, desenvolve a motivação pelo rendimento e algumas características como desenvolvimento do coleguismo, prazer, orgulho, responsabilidade, etc. Enquanto que algumas desvantagens podem ser a falta de tempo para organização das atividades diárias, alto nível de exigência, estresse emocional e podem muitas vezes impedir o desenvolvimento adequado de atividades escolares, de recreação e também sociais. Contudo pode-se tomar como conclusão que o exagero na dedicação aos esportes de alto nível pode afetar a personalidade das crianças.

É importante dizer que o mais importante é privilegiar o desenvolvimento integral da criança e não visar como prioridade o alto rendimento, obtendo um equilíbrio ideal para a formação do indivíduo.

Diferenças entre esportistas e não-esportistas

Foi feito uma comparação de personalidade com objetivo de avaliar as diferenças entre atletas e não-atletas, com relação a características como agressividade, sinceridade, emotividade etc. A comparação entre atletas a não-atletas é muito importante para perceber se há uma diferença na personalidade de um atleta de alto nível com um indivíduo comum.

Muitos estudos mostraram significantes diferenças de características indicam que atletas mostram maior estabilidade emocional, mostra também que eles são mais extrovertidos, mais autoconfiantes e possuem maior resistência mental que não-atletas. Comparando um grupo de corredores com não-atletas, os corredores mostram-se ser mais pensativos, com menores níveis de raiva, menor índice de tensão, depressão, estresse e uma maior tendência à liderança.

Numa comparação entre atletas de esportes coletivos com atletas de esportes individuais, pode ser observado que os atletas coletivos são geralmente mais extrovertidos, mais dependentes do grupo e possuíam menor direcionamento da orientação do ego.

Quando comparadas atletas de não-atletas do sexo feminino, as atletas demonstravam serem mais agressivas, mais independentes e mais estáveis emocionalmente.

Método

Para avaliar a personalidade de atletas de esportes coletivos com de esportes individuais foi aplicado um teste de personalidade de origem alemã, que se baseava em um questionário com 138 perguntas nas quais as resposta opcionais eram “concordo” e “não concordo”. Os atletas avaliados eram de esporte dos tipos individuais e coletivos, sendo todos de alto nível de rendimento.

O resultado nesse teste era avaliado de acordo com um valor médio padrão obtido. Quando as variáveis superavam esses padrões se observava a diferença na personalidade de atletas com não-atletas.

Resultado

Dentro dos resultados, as variáveis (características) que mais se diferenciavam entre atletas e não-atletas eram relacionadas à irritabilidade, agressividade, fatigabilidade, sinceridade e emotividade. Dentro da comparação, as que menos se diferenciaram foram relacionadas à auto-realizaçao, espírito humanitário e empenho laboral.

Os dados ajudam a fazer uma analise que chega a conclusão de que existem evidencias de diferenças nas características, mostrando a existência de características psicológicas especiais em atletas de alto rendimento (em muitas dessas características).

Conclusão

O teste teve como finalidade comparar e observar as semelhanças e diferenças nas características da personalidade entre atletas e não-atletas.

Embora em seu resultado tenha mostrado diferenças com relação aos estudos anteriores, ficou mais evidente que um atleta de alto rendimento tem características de personalidade distintas de não-atletas.

Diferenças entre os sexos e entre esportes distintos

As diferenças entre homens e mulheres sempre foram e, ainda são, objeto de estudos nas mais diversas áreas do conhecimento e no esporte isso não é diferente. Características físicas, fisiológicas, no rendimento atlético e, também, nas variáveis psicológicas são estudadas exaustivamente para tentar explicar possíveis diferenças entre os sexos. Existem tanto autores que defendem a presença de diferenças quanto aqueles que defendem a ausência.

Para Pedersen (1997), os atletas do sexo masculino diferenciam-se das mulheres atletas por serem mais ativos, apresentarem índices mais altos de agressividade, serem mais competitivos e controlados. As atletas diferenciam-se por serem mais organizadas e mais orientadas para um objetivo pré-determinado.

Método

O presente estudo objetivou avaliar as características da personalidade de atletas brasileiros de alto-rendimento, verificando as semelhanças e diferenças existentes entre indivíduos de ambos os sexos.

A amostra se constituiu de duzentos e nove atletas brasileiros (108 homens e 101 mulheres) de quatro modalidades esportivas (voleibol, basquete, judô e natação), com idade media de 20,69±4,19 anos e tempo médio de treinamento de 8,74±4,62 anos.

O instrumento utilizado foi o Inventário de Personalidade de Freiburg (FPI-R).

As seguintes variáveis foram estudadas: Auto-realização, Espírito Humanitário, Empenho Laboral, Inibição, Irritabilidade, Agressividade, Fatigabilidade, Queixas Físicas, Preocupação com a Saúde, Sinceridade, Extroversão, Emotividade.

Resultados

Figura 2: Disposição das médias das variáveis do FPI entre atletas homens e mulheres.

(* p<0,05, ** p<0,01, ***p<0,001).


Legenda: AR- Auto-realização; EH- Espírito Humanitário; EL- Empenho Laboral; IN- Inibição; IR- Irritabilidade; AG- Agressividade; FA- Fatigabilidade; QF- Queixas Físicas; PS- Preocupação com a Saúde; SI- Sinceridade; EX- Extroversão; EM- Emotividade.

Inicialmente, torna-se claro na Figura 2 a existência de diferenças de médias entre atletas do sexo masculino e feminino nas variáveis psicológicas dos estudos. As que apresentaram maiores diferenças nas médias foram queixas físicas, irritabilidade e emotividade, todas maiores para mulheres (podendo ser caracterizadas como mais tímidas e sensíveis). Para homens, as que foram mais diferentes foram auto-realização e agressividade (podendo assim serem caracterizados como confiantes).

Tabela 2: Estatística descritiva – média ± desvio-padrão em pontos - das variáveis psicológicas do estudo dos subgrupos de atletas masculino (M) e feminino (F) das diferentes modalidades.


A partir dos resultados apresentados na Tabela 2, pôde-se verificar que existem diferenças entre atletas de alto-rendimento de ambos os sexos, no entanto a quantidade de diferenças não pode ser considerada significativa, devido à existência de sete sub-grupos (vôlei, natação e judô, masculino e feminino e o basquete, somente masculino, combinados com as doze variáveis do estudo).

Ainda assim, os resultados apresentados indicam haver um maior número de diferenças na comparação de esportes de contato físico direto (ex. judô) com aqueles indiretos (ex. vôlei), o que pode indicar uma direção para as diferenças psicológicas no perfil dos atletas.

Outro fator é a pequena diferença entre homens e mulheres da mesma modalidade esportiva, apontando para características semelhantes entre atletas de uma mesma modalidade esportiva.

Considerações finais

Atletas homens e mulheres diferenciaram nas variáveis auto-realização, agressividade, inibição, irritabilidade, queixas físicas e emotividade, quando separados de uma maneira geral sem considerar suas respectivas modalidades.

No entanto, quando os subgrupos de atletas brasileiros, homens e mulheres, foram separados e analisados de acordo com sua modalidade, não foram observadas diferenças significativas entre atletas dos sexos masculino e feminino. Isso pode indicar a existência de características psicológicas semelhantes entre atletas de um determinado esporte.

As diferenças mais significativas ocorreram entre indivíduos de diferentes sexos e entre modalidades esportivas de contato físico direto (Ex. Judô) com aquelas que não tem contato físico direto (Ex. Vôlei).

Resumidamente, observa-se que a maior parte das diferenças significativas das variáveis psicológicas ocorreu entre homens e mulheres, entre modalidades distintas e entre modalidades de contato direto e indireto. Apesar das diferenças entre sexos existirem, não são tão grandes, demonstrando que pode existir um perfil de personalidade de atletas de alto rendimento.

Diferenças entre esportistas profissionais e amadores

Este é um estudo que foi feito com o intuito de identificar as características de goleiros profissionais e amadores de futebol de campo, avaliando as semelhanças e diferenças psíquicas entre os grupos, e também perceber se há alguma característica especifica desse atleta quanto à personalidade.

No Brasil, país onde o futebol é visto como principal esporte, existe muito desenvolvimento em tudo que envolve esse esporte, quanto a tecnologia, tática, preparação física, etc. Mas quando levado em conta parâmetros relacionados a estudos psicológicos/emocionais, só recentemente que começou a surgir estudos com intuito de investigar alguns aspectos de personalidade como concentração, estresse, estabilidade emocional, liderança e interação social dos atletas. Nesse ímpeto, foi escolhido o goleiro para este estudo, por ser considerada uma posição diferenciada dentro de um time, até mesmo na forma de cobrança externa e também na auto-cobrança. Alguns dos poucos estudos existentes apontam o goleiro como um atleta considerado como mais introvertido que os outros atletas.

Métodos

O estudo tem como objetivo identificar as características da personalidade através de um questionário de avaliação tipológica, baseado na teoria junguiana, para identificar as características e atitudes mais usadas pelos goleiros. Foram avaliados goleiros tanto profissionais quanto amadores.

Resultados

Em resultados, foi visto que predominantemente esses atletas, tanto amadores quanto profissionais tinham características mais relativas a extroversão. Quanto a função psíquica dominante, a sensação e a intuição predominaram na maioria dos goleiros. Na questão de avaliar as funções auxiliares, pensamento e sentimento foram mais evidentes, sendo aquele maior do que este.

Isso faz perceber que mesmo tendo preferência a extroversão, esses atletas tendem a agir em seus relacionamentos de forma mais racional, que está ligada a função do pensamento. Essa característica também ajudam a ser qualificados com grande habilidade de discernir o que precisa ser feito em momentos de tensão.

Considerações finais

Este estudo possibilitou perceber que existem muitas características em comum entre goleiros profissionais e amadores quanto a personalidade. Outra observação que pode ser feita foi de que houve predominância de extroversão e sensação, e isso talvez tenha acontecido por causa da forma do teste, classificando por tipos, não observando as características dentro de um perfil mais amplo.

TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE NA TERCEIRA IDADE

Pode-se dizer que em relação às características desses transtornos na terceira idade, diversos trabalhos sugerem que transtornos de personalidade persistem na terceira idade e são particularmente prevalentes em amostras de idosos deprimidos, impactando de maneira negativa nos pacientes com depressão na terceira idade (Morse e Lynch, 2004).

Dificuldades inter-pessoais, instabilidade afetiva, distorções da relação médico-paciente e respostas imprevisíveis às intervenções, características conhecidas nos transtornos de personalidade, são as mesmas encontradas tanto em adultos idosos como em pacientes jovens (Clarkin et al., 1999).

Relato de caso

Um caso estudado por Pereira et al. (2007), é de uma paciente de 68 anos (mulher), separada, com história de quadro depressivo que se estendia já por 22 anos. Nas consultas psiquiátricas relatava estar triste, desanimada, desesperançada, pessimista e apresentava muitas queixas sobre seus relacionamentos inter-pessoais. Além disso, a paciente se queixava de problemas físicos, como falta de ar, dores nas pernas, cefáleia e palpitações.

A paciente fazia tratamento há 13 anos, e durante esse acompanhamento psiquiátrico, foi encaminhada à psicoterapia breve, mas não conseguiu dar continuidade a esse acompanhamento pela falta de motivação e pequena capacidade de introspecção e insight.

Assim sendo, foi encaminhada para avaliação psicológica, que se propôs a investigar os fatores relacionados à falta de adesão ao tratamento e à dinâmica familiar para ajuda diagnóstica e terapêutica.

Na avaliação, a paciente apresentou comportamentos que confirmavam o traço teatral de sua personalidade. Além de tudo, sua própria vida também era descrita nesses termos, pois teria se constituído de uma “infância plenamente maravilhosa” e de “vida adulta absolutamente vitimizada”.

Observa-se uma tendência a boicotar os esforços clínicos das equipes de saúde, não seguindo as orientações para uso correto das medicações, mostrando-se intolerante a qualquer atraso nas consultas, além das faltas freqüentes às consultas de avaliação psicológica e de psicoterapia.

Discussão

O presente relato ilustra um caso de transtorno de personalidade em uma paciente idosa. Além da presença de sintomas depressivos, como tristeza, perda da motivação, revelava também comportamento exibicionista e sérias dificuldades no relacionamento familiar.

Em amostras adultas, pacientes com transtorno de personalidade têm respostas menos favoráveis (do que aqueles sem transtorno), a uma variedade de tratamentos já testados para depressão, incluindo medicações antidepressivas e medicação combinada mais terapia.

Segundo Pereira et al (2007), o presente relato ilustra um caso de transtorno de personalidade do tipo histriônico, que coincide com estudos da literatura, como o de Paris (2004), que refere que determinados transtornos de personalidades, como dependente, borderline e histriônico, ocorrem mais em mulheres, enquanto personalidades paranóide, anti-social e obsessivo-compulsiva predominam nos homens.

Deve-se ressaltar que esse transtorno em mulheres é mais comum em pessoas separadas, que têm casamentos infelizes e problemáticos, que apresentam também doenças clínicas inexplicáveis, freqüentes tentativas de suicídio, embora a morte seja rara; já em homens, esse transtorno está mais associado a abuso de substâncias (Coid, 2003).

CONCLUSÃO

Concluindo, pode-se dizer que após um estudo aprofundado do assunto, foi possível observar a grande importância desse assunto para a vida das pessoas.

Foram encontradas diversas teorias acerca do assunto, nas quais cada autor foi responsável por agrupar e identificar características que enquadrariam as pessoas em uma determinada personalidade, bem como a utilização de um determinado método de mensuração para essa determinação.

Além disso, foi possível identificar a profunda relação entre o tema estudado (a personalidade) e o esporte, mostrando relações e diferenças quando comparadas pessoas de diferentes sexos, de diferentes modalidades, esportistas e não esportistas, e entre profissionais e amadores.

Outro objeto de estudo foi a relação entre a personalidade e a terceira idade.

Pode-se dizer que o assunto é de extrema importância não só na área de Educação Física e Psicologia, mas em todas as áreas de estudo. Portanto, evidencia-se a necessidade pelo aumento de estudos dentro dessa área, bem como de seu relacionamento com outras áreas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DAVIDOFF, L.L. Introdução à Psicologia. São Paulo: McGraw-Hill, 1983

SAMULSKI, D. Psicologia do Esporte. São Paulo: Manole, 2002

FILHO, M.B.; RIBEIRO, L.S.; GARCÍA, F.G. Personalidade de atletas brasileiros de alto-rendimento: comparações entre os sexos masculino e feminino e correlação com nível de performance e tempo de treinamento. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto – Vol. 5, nº 1, 2005

SCOPEL, E.; ANDRADE, A.; LEVANDOWSKI, D.C. Avaliação das características de personalidade de goleiros profissionais e amadores. Psicol. cienc. prof., 2006

PEREIRA, F.S.; APARÍCIO, M.A.M.; FELÍCIO, J.L.; BASSITT, D.P. Transtorno de personalidade na terceira idade. Revista de Psiquiatria Clínica, 2007

ALCHIEI, J.C.; CERVO, C.S.; NÚÑEZ, J.C. Avaliação de estilos de personalidade segundo a proposta de Theodore Millon. PSICO, Porto Alegre, PUCRS, 2005

FILHO, M.B.; RIBEIRO, L.S.; GARCÍA, F.G. Comparação de características da personalidade entre atletas brasileiros de alto rendimento e indivíduos não-atletas. Revista Brasileira de Medicina e Esporte – Vol. 11, nº 2, 2005

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