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Cultura Solidaria

  • Foto do escritor: Caio Poletti
    Caio Poletti
  • 3 de mai. de 2020
  • 4 min de leitura

A cultura que será abordada nesse texto corresponde àquela nascente do trabalho cotidiano de organizações solidárias, nas quais princípios como igualdade (eqüidade na distribuição das grandezas) e democracia (distribuição unânime das responsabilidades e direitos) encontram-se muito presentes. Um exemplo importante dessas instituições são as cooperativas, que muitas vezes (principalmente no Brasil) apresentam-se semelhantemente a uma empresa comum (com um sistema assalariado e fundada em estratificação hierárquica), sendo denominadas, portanto, de “cooperfraudes”, uma vez que suprimem os direitos trabalhistas.

As cooperativas que, por outro lado, seguem as características comuns dessa modalidade econômica, podem apresentar uma origem popular ou até mesmo nascer em setores de classe média, sendo composta por pessoas que se recusam a assumir as condições normais de uma empresa, ou seja, papeis de empregados e patrões (moldes das empresas capitalistas). Essas pessoas buscam assumir e dividir responsabilidades de forma democrática, encontrando uma maneira alternativa de sustento, caracterizado pela convivência em grupo, e pela ajuda mútua, ou seja, uma vida em comunhão e auto-suficiente.

Além disso, pode-se acrescentar que essas cooperativas podem ser caracterizadas pela pluralidade de adesões, caracterizado por acordos coletivos e não por uma individualidade de decisão. Na vida cotidiana, porém, esses ideais de justiça, democracia e igualdade, acabam esbarrando em contradições inerentes à condição humana e à vida social, mostrando, portanto, que essa modalidade de cultura pode ser eficiente em um aprendizado humano mais “elevado”.

Dessa forma, tornar-se solidário mostra-se uma tarefa que exige tempo e persistência dos interessados. Esse modelo propõe a construção de uma cultura solidária composta por relações cooperativas, mas em nenhum momento ocultando a importância do móvel econômico, ou seja, da moeda. É favorecido também um ambiente de trabalho diferente das fábricas, onde a obsessão do salário e o cansaço suprimem características inerentes aos seres humanos.

Assim sendo, acredita-se que o regime de trabalho deve convir à produção, mas não somente à ela, necessitando ser condizente com as aspirações humanas dos que produzem. Para tanto, existem alguns princípios das cooperativas, que são principalmente: gestão democrática (direitos de voto iguais); portas abertas (desde que participem com uma cota mínima); divisão dos excedentes entre os sócios conforme o valor de suas compras (respeitando uma reserva financeira); necessidade de educação dos sócios nos princípios do cooperativismo; e abertura política e religiosa.

Outro ponto importante que pode ser relatado no mundo atual é o desemprego, que envolve o mundo inteiro. Assim sendo, muitas tentativas de solução são utilizadas, como: acúmulo de capital para ascender à condição de proprietário; treinamento para compor uma atividade familiar; afastamento das relações assalariadas (trabalhar como autônomos); além daqueles que aguardam ser incorporados novamente pelo mercado.

Nesses casos trata-se de pessoas que tem alguma forma de sustento, ou seja, esse é apenas um período transitório em suas vidas. O problema mais grave encontra-se naqueles que não possuem nenhum sustento, que acabam optando por atividades ilícitas, ingressando no universo dos ambulantes e outras profissões, ou também se dedicam à execução de pequenos serviços (“bicos”).

Por outro lado, existem muitas pessoas que dirigem seus esforços para encontrar saídas em níveis coletivos, ramo em que se encontram as cooperativas. Esse caminho da cultura solidária pode ser caracterizado como uma construção de práticas desenvolvidas em comum, isto é, a cultura é vista por um ângulo de uma conquista, e não de uma simples soma de objetos, cabendo às pessoas produzir e não apenas consumir cultura.

Dessa forma, a cultura solidária surge como uma negação ao egocentrismo e à competição desenfreada, valorizando uma compreensão mais alargada, democrática e generosa das interações sociais. Porém, essas características não implicam que não haja conflitos, divergências, discordâncias nas interações sociais, mas sim que as pessoas se respeitem e vejam como são iguais em alguns aspectos e que aprendam a trabalhar suas diferenças.

Porém, é possível relembrar que mesmo em uma sociedade comum (como a que vivemos), num universo tão individualista, existe uma profunda experiência coletiva, uma prática vivida em comum. Assim sendo, mostra-se essencial que existam normas capazes de ordenar a sociedade e tornar possível o convívio, regras essas caracterizadas pela restrição à liberdade de ação.

Além disso, com as profundas mudanças sofridas pela sociedade, muitos contatos sociais foram transformados em deveres, numa condição passiva e sem paixão. Assim sendo, algumas habilidades sociais foram perdidas, e quanto mais essa vida psíquica for privada e não for estimulada, cada vez mais será dificultada a expressão dos sentimentos e angustias pessoais.

Cada vez mais acabamos deixando que inibam nossa capacidade de pensar e de tomarmos decisões, e que outros assumam essa função, isto é, cada vez mais se cede espaço de criação e nos tornamos mais vulneráveis, menos habilitados a questionar o mundo em nossa volta. Nesse contexto surge a idéia de que as formas de economia solidária (cultura solidária), principalmente as cooperativas podem ser uma proposta de redefinição humanista, ou seja, uma maneira de parar a opressão sofrida pela sociedade.

Concluindo, pode-se dizer que muitos avanços da sociedade acabaram se voltando para ela mesma, trazendo sérias conseqüências que necessitam de soluções. Dentro desse contexto podemos enquadrar os avanços produtivos, que cada vez mais com o advento das máquinas, dispensam homens no trabalho, fato esse que contribui para o aumento do desemprego. Dessa forma, as cooperativas surgem com o ideal de igualdade entre os membros, uma maneira de possivelmente aumentar a autonomia e a auto-suficiência das pessoas, podendo ser uma solução para esse embate em que se encontram as pessoas.

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